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Um artista que sobreviva a uma residência do Tremor recebe uma espécie de selo de garantia de como está apto para tudo. O tempo urge, os recursos são escassos (e limitados pelo Atlântico a rodear a ilha), os artistas geralmente conhecem-se no terreno e há sempre o risco de o tempo obrigar-te a transplantar o teu concerto algures para dentro de uma gruta. Sofia Caetano (realizadora e artista visual açoriana e a primeira pessoa que conhecemos pessoalmente que já teve um filme no Ann Arbor) conta-nos o que é adicionar este sentimento basal de incerteza a uma pandemia mundial:
«Supostamente o Tremor Todo-o-Terreno em que participámos ia acontecer em 2020, mas com a pandemia passou para 2021, o que significa que tivemos, nada mais, nada menos do que dois anos para trabalhar na ideia do que é que iria acontecer. Era no trilho das Quatro Fábricas da Luz e, no final do trilho, havia um sítio com um espelho de água. Nós tínhamos escolhido que o momento do concerto ao vivo seria aí. Até tínhamos decidido construir uma jangada para o Luís Senra (saxofonista natural de Rabo de Peixe) aparecer a flutuar. Faltava uma ou duas semanas para o evento acontecer e decidimos ir fazer um teste à jangada. Chegámos lá, num domingo de manhã, e o que é que tinha acontecido? Tinham vazado o espelho de água. Só restou um lameiro. Como é possível? Em dois anos fomos lá umas sete vezes, e na semana antes do festival é que aquilo aparece vazio?!?»